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publicado em 2025-11-13
CNT alerta que mudanças na jornada 6×1 podem agravar falta de profissionais no transporte.
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) participou, nesta segunda-feira (10), de audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, para discutir os efeitos do regime de escala 6×1 (seis dias de trabalho por um de descanso). O debate, realizado no Auditório Nereu Ramos, foi promovido pela Subcomissão Especial da Escala de Trabalho 6×1, a pedido dos deputados Luiz Gastão (PSD/CE) e Luiz Carlos Motta (PL/SP).
Durante o encontro, representantes do governo, do setor produtivo e de centrais sindicais discutiram os impactos sociais, econômicos e operacionais da jornada vigente e das possíveis alterações em estudo no Congresso. A CNT, representada pelo assessor trabalhista Brunno Batista Contarato, destacou que o tema exige cautela e diálogo, sobretudo em setores estratégicos como o transporte, que dependem de escalas contínuas para manter o funcionamento de serviços essenciais.
“Qualquer mudança abrupta na jornada pode comprometer o abastecimento, a mobilidade urbana e o transporte de cargas em todo o país. O transporte já enfrenta escassez de profissionais, e reduzir o tempo de trabalho sem planejamento pode agravar o problema”, alertou Contarato.
De acordo com dados da CNT, 65,1% das empresas do setor relatam dificuldade para contratar motoristas, e a idade média da categoria é de 46 anos, sendo 22% com mais de 50 anos — indicando uma possível lacuna geracional nas próximas décadas.
O cenário se repete em outros modais: no setor aquaviário, o déficit estimado até 2030 varia de 2 a 4 mil marítimos, enquanto o transporte aéreo deverá demandar cerca de 1,3 milhão de novos profissionais em todo o mundo nos próximos dez anos.
Contarato reforçou que a simples ampliação do quadro de trabalhadores não é uma solução imediata, uma vez que o déficit decorre também da falta de mão de obra qualificada e das exigências técnicas das funções.
O assessor explicou que uma alteração na jornada sem compensações adequadas pode gerar efeitos contrários aos esperados.
“A redução da escala poderia não garantir qualidade de vida se resultar em inflação e perda de renda. O trabalhador, buscando manter o mesmo padrão de vida, acabaria buscando um segundo emprego. Isso não resolveria o problema do descanso, apenas o deslocaria”, observou.
Segundo ele, o impacto seria perceptível em redução da oferta de transporte público, aumento dos custos logísticos, entregas mais lentas e encarecimento de produtos e serviços.
A CNT defende que mudanças na jornada de trabalho sejam conduzidas por meio da negociação coletiva, respeitando as particularidades de cada modal e de cada categoria profissional. “A negociação é o melhor caminho para equilibrar produtividade, qualidade de vida e sustentabilidade econômica”, concluiu Contarato.
Enquanto o debate avança na Subcomissão, tramita na Câmara dos Deputados a PEC nº 8/2025, que propõe uma carga semanal de quatro dias de trabalho e três de descanso, extinguindo a escala 6×1 e limitando a jornada a 36 horas semanais. A proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, se aprovada, seguirá para uma comissão especial antes de ir ao plenário.
A audiência também contou com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e de representantes da CNC (Comércio), CNI (Indústria), CNA (Agricultura), além das centrais CUT, Força Sindical e UGT. Todos os participantes destacaram a importância de buscar um equilíbrio entre competitividade, saúde do trabalhador e manutenção dos empregos.
Fonte: Agência CNT Transporte Atual/ EDISÃO PUBLI.MARKETING SINDIFOZ.