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publicado em 2025-11-27
Renovação de frotas é prioridade para descarbonizar o transporte, afirma CNT na COP30.
Respirar um ar mais limpo, reduzir doenças respiratórias e tornar o transporte de cargas mais eficiente não são metas distantes; elas dependem de políticas públicas que incentivem a renovação da frota que circula nas estradas brasileiras. Veículos antigos emitem mais poluentes, consomem mais combustível e impactam diretamente a saúde da população e o equilíbrio ambiental. Por isso, modernizar a frota é também um investimento em qualidade de vida e na transição para um futuro sustentável.
Durante a Estação do Desenvolvimento, na Green Zone da COP30, em Belém (PA), o analista de Transporte da CNT, Gustavo Willy, apresentou a palestra “Impactos Ambientais e Econômicos Advindos da Renovação de Frotas no Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil”. Ele destacou que renovar a frota é uma estratégia de curto prazo para avançar na descarbonização, já que o custo dos veículos elétricos ainda é elevado.
Segundo Willy, um automóvel elétrico custa cerca de 50% a mais que um veículo convencional, e no caso de ônibus e caminhões pesados, esse valor pode ser até três vezes maior, dificultando uma transição energética imediata.
“Como faremos a transição energética de uma hora para outra? Isso é improvável. Precisamos de ações por etapas e com responsabilidade”, afirmou.
A CNT defende que a transição deve seguir estratégias em diferentes prazos. Enquanto os veículos elétricos são uma solução para médio e longo prazo, a renovação da frota traz benefícios ambientais e sociais imediatos, com menor esforço operacional e financeiro. Para fundamentar essa defesa, a entidade reuniu dados e projeções sobre a redução de poluentes atmosféricos, como monóxido de carbono, hidrocarbonetos e material particulado, diretamente relacionados à saúde pública.
Gustavo Willy lembrou ainda que o Brasil possui o Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), criado em 1986, que estabeleceu limites cada vez mais rigorosos de emissão de poluentes.
“Um veículo de 1989 podia emitir 60 vezes mais material particulado do que um veículo atual. A tecnologia embarcada e a renovação da frota mostram ganhos gigantescos para a saúde pública e para o meio ambiente”, destacou.
Os estudos da CNT mostram o impacto real de diferentes cenários de renovação da frota:
| Cenário | Percentual da frota renovada | Redução de emissões |
|---|---|---|
| Retirada dos veículos mais antigos (P0) | 11% da frota | 33% das emissões |
| Substituição dos veículos até 2012 (P8) | 86% da frota | 95% das emissões |
| Retirada de veículos com +13 anos | — | 80% das emissões |
No entanto, o custo financeiro é expressivo: R$ 1,16 trilhão, equivalente a um ano do PIB brasileiro. Mesmo considerando o valor dos veículos antigos, o montante líquido seria de R$ 845 bilhões. Já o cenário de retirada apenas de caminhões com mais de 13 anos exigiria R$ 529 bilhões, com redução de 80% das emissões.
Ao final da apresentação, Willy destacou medidas que podem viabilizar a renovação de frotas no Brasil:
Programas diferenciados para autônomos, pequenas empresas e grandes frotistas;
Fóruns permanentes de diálogo entre governo, setor privado e sociedade;
Estímulo à reciclagem automotiva e à logística reversa;
Incentivos fiscais e linhas de crédito específicas;
Respeito aos princípios da economia circular.
“Um transportador autônomo não pode simplesmente abrir mão do único veículo que possui. Precisamos de programas robustos, que atendam a todas as realidades e valorizem a reciclagem automotiva. Caso contrário, criaremos pilhas de resíduos valiosos sem aproveitamento”, concluiu.
A mensagem central é clara: renovar a frota brasileira não significa apenas modernizar o transporte, mas cuidar da saúde das pessoas, fortalecer a sustentabilidade e tornar o Brasil mais competitivo no cenário internacional. O debate está aberto, e a COP30 mostra que é hora de agir.