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publicado em 2025-12-10
Custos logísticos críticos e falta de acordos comerciais limitam competitividade do Brasil no exterior.
Levantamento revela que custos logísticos, ineficiência portuária e entraves regulatórios seguem como principais obstáculos para os exportadores brasileiros, reduzindo a presença do país no comércio internacional.
A competitividade das exportações brasileiras segue fortemente prejudicada por entraves logísticos, institucionais e macroeconômicos. É o que mostra a pesquisa “Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras”, divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os dados evidenciam que quatro dos principais obstáculos ao setor estão ligados a problemas de logística e infraestrutura, enquanto fatores econômicos, como os juros elevados , também pressionam as empresas exportadoras.
O levantamento, que avaliou o impacto de 50 diferentes obstáculos com base na percepção de empresas exportadoras ao longo dos últimos dois anos, aponta que:
58,2% dos empresários classificam o custo do transporte internacional como entrave de impacto elevado ou crítico.
Logo depois aparecem:
Ineficiência portuária para manuseio e embarque (48,5%);
Limitações de rotas marítimas, espaço ou contêineres (47,7%);
Altas tarifas portuárias (46,2%);
Volatilidade cambial (41,8%), primeiro item fora da área logística.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, destaca que o Brasil vive um momento decisivo em sua inserção no comércio internacional, combinando desafios internos históricos com um cenário global cada vez mais adverso.
“Precisamos eliminar gargalos internos com ação coordenada entre governo e setor privado. A indústria não pode perder tempo”, afirma Alban.
Segundo Alban, tensões comerciais entre grandes economias, novas exigências ambientais e medidas protecionistas tornam ainda mais urgente a modernização da logística e a simplificação do comércio exterior brasileiro.
A pesquisa mostra que questões antigas continuam sem solução satisfatória:
Burocracia alfandegária e aduaneira;
Infraestrutura insuficiente;
Complexidade regulatória;
Falta de integração entre órgãos de fiscalização.
Esses gargalos elevam custos, aumentam prazos e reduzem a previsibilidade das operações, afetando especialmente pequenas e médias empresas exportadoras.
Além dos custos logísticos, os exportadores enfrentam obstáculos para ampliar sua presença em mercados estratégicos. O principal entrave apontado foi a ausência de acordos comerciais com países de destino:
25,8% apontaram a falta de acordos como maior dificuldade.
Barreiras tarifárias (22,7%) e não tarifárias (21,7%) também aparecem com destaque.
Regulamentações ambientais rígidas ou discriminatórias foram mencionadas por 9,7%.
Entre as empresas que enfrentaram barreiras em mercados de destino (31%), as principais foram:
Tarifas de importação (67,2%);
Burocracia aduaneira estrangeira (37,8%);
Normas técnicas específicas (37%);
Medidas antidumping e defesa comercial (28,6%);
Regras sanitárias e fitossanitárias (25,2%).
Quanto aos países prioritários para acordos e cooperação, os exportadores apontaram:
Estados Unidos (69%);
China (34%), principal parceiro comercial brasileiro.
A alta tributação sobre serviços importados utilizados nas exportações foi considerada crítica por 32,1% das empresas.
Outros problemas frequentemente citados incluem:
Dificuldades no ressarcimento de créditos tributários;
Excesso de obrigações acessórias;
Complexidade dos regimes especiais, como Drawback e Recof.
Embora esses instrumentos reduzam custos, a adesão ainda é limitada por falta de orientação e excesso de exigências.
A multiplicidade de normas, mudanças frequentes e interpretações distintas pelos órgãos de governo seguem como entraves importantes:
29,1% citaram insegurança jurídica como entrave crítico;
25% apontaram leis conflitantes e pouco efetivas;
O excesso de documentos e a falta de integração entre sistemas também dificultam processos.
Apesar dos avanços do Portal Único de Comércio Exterior, exportadores relatam que a digitalização ainda é parcial e não cobre toda a cadeia.
O custo do transporte internacional já havia sido o principal entrave em 2022, quando foi mencionado por 60,7% das empresas.
Entretanto, a atual pesquisa mostra agravamento em áreas antes menos críticas:
Ineficiência portuária, que em 2022 ocupava a 14ª posição, saltou para o 2º maior problema.
Empresários também registraram piora na percepção sobre juros altos e entraves institucionais.
A CNI reforça que, ao longo de mais de 20 anos, a pesquisa tem sido fundamental para orientar políticas públicas e promover melhorias no ambiente de negócios.
Com base nos resultados, a CNI apresentou um conjunto de propostas voltadas à modernização do comércio exterior e ao fortalecimento da indústria exportadora.
Modernização dos instrumentos de crédito e seguro.
Reestruturação do lastro do Seguro de Crédito à Exportação.
Simplificação e digitalização de regimes especiais (Drawback, Recof).
Expansão dos acordos para evitar dupla tributação, priorizando EUA, Alemanha e Reino Unido.
Implantação da Janela Única Aquaviária e dos Sistemas Comunitários Portuários (PCS).
Revisão das tarifas portuárias e estímulo à concorrência.
Maior investimento em infraestrutura multimodal (rodovias, ferrovias e hidrovias).
Conclusão do Portal Único de Comércio Exterior.
Fortalecimento do Programa OEA.
Criação de um Comitê Nacional de Barreiras Comerciais.
Prioridade para a internalização dos acordos Mercosul–União Europeia e Mercosul–EFTA.
Retomada das negociações com EUA e Canadá.
Ampliação de acordos regionais, incluindo temas como serviços e investimentos.
Criação de um Observatório da Competitividade das Exportações na Camex.
Estabelecimento de metas anuais de melhoria nos indicadores brasileiros.
A pesquisa da CNI reforça que superar esses desafios é condição essencial para reposicionar o Brasil no comércio global. Modernizar a infraestrutura, reduzir a burocracia e ampliar acordos comerciais não são somente demandas do setor produtivo, mas caminhos indispensáveis para o país conquistar novos mercados, atrair investimentos e transformar seu potencial exportador em resultados concretos. O Brasil tem condições de avançar, falta agora alinhar estratégias e acelerar as ações que destravarão a competitividade nacional.
Foto e Fonte: Agência de Notícias da Indústria / divilgaçaõ /ntc logistica / marketing sindifoz